Direção: Penelope Spheeris
Duração: 94 Minutos
Tamanho: 324 Mb
Incomoda-lhe o fato de que o Metallica conseguiu fama e fortuna e o Motörhead não?
Lemmy: "É simplesmente uma questão de sorte marcada. Você tem que estar no lugar certo e na hora certa. Chegamos atrasados demais para a primeira invasão britânica e cedo demais para a segunda".
Você se tornou mais popular nos Estados Unidos por ser Lemmy do que pelo Motörhead em si.
Lemmy: "Sou grato pelo que tenho, não reclamo. Acho que me tornei mais popular por não decepcionar as pessoas. A pior coisa é você admirar alguém e essa pessoa lhe desapontar. Você vai conhecer alguém pensando que é uma pessoa excelente e ela se revela como alguém completamente idiota, isso é horrível".
Nem Motörhead nem Lemmy fizeram concessões.
Lemmy: "Concessões são idiotas. A mais divertida foi quando tentaram fazer com que cortássemos o cabelo. Um empresário antigo achava que poderíamos alcançar uma audiência maior se fizéssemos isso. Disse 'então é isso, acho que não vamos alcançar uma audiência maior'".
Você acompanhou o início da Blizzard of Ozz.
Lemmy: "Foi a turnê em que conheci Ozzy. Eles eram uma banda melhor que o Sabbath. Sabia que seria assim, pois nunca gostei do Sabbath. Realmente gostei de Ozzy com a Blizzard of Ozz".
Você viu talento em Randy Rhoads?
Lemmy: "As pessoas se tornam melhores depois de mortas, essa é a verdade. Veja Buddy Holly e Stevie Ray Vaughan, ninguém dava a mínima pra eles quando estavam vivos. Eram apenas caras que tocavam guitarra. De repente eles morrem e tornam-se grandes influências. Isso é uma besteira. Não estou dizendo que Randy não era bom, pois ele era, mas a morte aumenta as coisas. Randy era um cara baixinho, direito e humilde".
Como você pode estar no mundo dos negócios musicais e não se importar com vendas e paradas de sucesso?
Lemmy: "Isso é o que está errado no rock n’ roll, cara. Há muitos músicos que se tornam homens de negócio. Se você é um músico deveria se preocupar em contratar advogados competentes para cuidar da burocracia e cuidar só da música".
Há algum tipo de música que você não suporta?
Lemmy: "Hip-hop. Acho que é a pior música que os negros já fizeram. Entrei nessa vida por causa dos discos feitos por negros. Comecei com o blues, passei para Chuck Berry e depois os discos da Stax Records e da Motown. Hip-hop é uma continuação dessa tradição? Acho que não. Mataria por Little Richard, ele fez o melhor rock de todos os tempos".
Você se deu bem com o sexo oposto. Qual o segredo?
Lemmy: "Não pare de falar, envolva-as e seja cavalheiro. Seja um cara correto, já que as garotas conhecem muitos caras errados. Sempre fui assim, Hendrix também. Ele sempre puxava as cadeiras para as garotas e eu também faço isso. Algumas feministas extremas consideram isso uma padronização, mas eu não vejo as coisas assim. São apenas boas maneiras. As que reclamam são barangas feiosas que não conseguem sequer um encontro".
Você veio da Inglaterra para a América. Isso lhe dá uma visão diferente das coisas. O que você pensa sobre as eleições presidenciais que se aproximam?
Lemmy: "Melhor não dar minha opinião ou serei preso amanhã. Acho o que você acha, o homem é um desastre e não há ninguém para substituí-lo. Não há uma aposta melhor. Acho que os americanos confiam demais. Confiaram que Bush faria um bom trabalho e ele não fez. Muitas pessoas não querem admitir que erraram. A América é controlada por extremos. Ou você é extremamente violento, ou extremamente liberal ou extremamente religioso. Esses diferentes lados nunca se relacionam. A América é muito certa de si, pois todo mundo vem pra cá dos mais variados lugares. É a nação mais poderosa do mundo e apenas um cara controla esse poder. Ir para o Iraque é como ir para o Vietnã. Dois mil garotos não vão mais voltar para casa porque Bush queria petróleo. Agora ele tem e o preço do gás subiu. Tenho certeza que ele está ganhando muita grana com isso. Acho que todos os políticos são uns idiotas. Lembro quando Harold Wilson foi eleito primeiro-ministro na Inglaterra em 1966. Fui vê-lo em uma audiência pública em Manchester e lembro de pensar 'que cara mentiroso!' enquanto ele falava. Notei que não havia em quem votar, apenas votar contra quem você não queria. Quando se tem que escolher o menos pior não é um bom sinal. Você precisa de alguém em quem possa acreditar e que irá justificar essa crença. Kennedy foi o último bom presidente. Olhando para trás, Clinton não era de todo ruim".
Minha grande decepção com Clinton foi que ele poderia ter pego algo melhor que Mônica Lewinsky.
Lemmy: "Exato. Kennedy pegou a Marylin Monroe. Isso diz tudo".
Produção francesa que causou polêmica e foi proibido na própria França, ''Baise Moi'' pode ser traduzido por ''Estupra-me'' (ganhou o título americano ''Rape me'' e também ''Fuck Me''). As atrizes Lancaume e Anderson interpretam as heroínas Nadine e Manu. Para elas, a violência, o humor, o sexo e a música são armas eficazes para fugir daquilo que desprezam: a obediência, a submissão, o tédio e a renúncia a si mesmas. Elas se sentem vivas quando fazem sexo ou quando matam alguém. Nada pode controlá-las. Trata-se de um road-movie cru com uma bela trilha sonora movido a punk e som alternativo francês.
Podemos vê-lo como questão de linguagem baseada em uma ontologia (do modo existência) da obra gravada. Podemos pensar também no que seria a filosofia depois do advento do rock, pois ele foi uma transformação tão radical da cultura quanto foram a psicanálise e o feminismo, a partir dos quais devemos também pensar a filosofia como experiência reflexiva de um tempo.
Podemos falar de rock como um “cogito do tempo”, como o chamou o filósofo francês Jean-Luc Nancy. Podemos também entender em que sentido o rock é ele mesmo uma expressão filosófica, um método como pensamento-ação-expressão e, nesse sentido, como a própria filosofia pode ser ela mesma um tanto “rock”. Ou rockfilosofia, aquela que, contagiada de rock, propõe pensar dançando, provocando, causando efeitos e livrando-nos de todo autoritarismo.
O grito elétrico como prática estética essencial
Foi Jean-Luc Nancy quem percebeu que o problema do rock já estava de certo modo posto na República, de Platão. No livro quarto da utopia platônica, a atenção à música é um problema de educação e de política. A ideia que vinga no texto é a de que é preciso cuidar do que os jovens ouvem, já que “não se podem mudar os modos da música sem abalar as mais importantes leis da cidade”.
Se os modos musicais são sistemas harmônicos que têm correspondência nos afetos é porque eles alteram o modo de ver o mundo. Alteram o sentimento e o comportamento dos jovens. Por exemplo, o modo dórico tem a ver com as virtudes cívicas; o frígio, com as virtudes guerreiras; o lídio, condenado por Platão, com os maus costumes e a embriaguez. A sensação de periculosidade do rock tem sua pré-história.
Nancy vê o rock como algo mais do que musical. Há nele determinado afeto, um pathos. Tal pathos tem a ver com a força de contágio que as culturas – até mesmo Platão – perceberam estar na música. No caso do rock, esse pathos tem a ver com “eletricidade”. Tal é, para o filósofo francês, o signo sensível e simbólico do rock. A guitarra elétrica é o instrumento no qual ela se concentra. Ela é o meio que permite a “comunicação de energia” constitutiva do rock, que mudou nosso modo de escutar, de viver e de pensar.
Proponho que pensemos o rock como uma complexa prática estética que é também política e que, tendo sua própria especificidade ontológica como manifestação de vontade (no sentido da vontade da natureza de que falou Schopenhauer), afeta o sentido do mundo. Quero dizer que o que o rock traz ao mundo é uma autorização contra o autoritarismo. Ele faz isso por meio da prática estética que foi recalcada ao longo da história: o grito.
A questão do grito é antiga. A importante obra sobre a escultura do Laocoonte, escrita por Lessing no século 18, põe uma questão simples: poderíamos chamar de bela a escultura, caso a boca de Laocoonte estivesse escancarada? A representação do grito de dor podia mostrar o feio na arte no lugar do belo. A compreensão da arte naquele tempo como representação da beleza – e o inevitável ocultamento – estaria comprometida.
Assim como a arte contemporânea, o que o rock vem fazer no contexto da cultura é justamente mostrar o que não deveria ser mostrado – o que abala a estrutura da cidade, como na República, de Platão. Seu índice é o grito. Como o Uivo, poema de Allen Ginsberg, poeta que encantava figuras como Bob Dylan. Só que o grito do rock não é apenas o uivo da poesia, não é apenas o grito da voz humana do cantor. Ele é o grito da guitarra elétrica, da máquina, o grito que nenhum humano pode dar desde que o próprio humano emudeceu diante do processo histórico e da tecnologia.
O grito do rock é elétrico, é o elétrico como grito. O grito ou a explosão do que, não devendo ser mostrado, todavia apareceu. Isso que nos encanta enquanto nos ensandece, nos irrita, nos afronta e, ao mesmo tempo, quer salvar alguma coisa em nós.
Salvar o quê? O grito é descarga da dor, a interpelação que obriga o outro a ouvir, mesmo quando o que ele diz é apenas mudez. O rock é o inconsciente musical, assim como a fotografia é o inconsciente ótico, na forma de um sintoma social elevado a fenômeno de massa de uma cultura marcada por uma ferida – um trauma – que não deixa de se abrir. Nesse contexto, que o rock sobreviva entre nós é um sinal de que ainda estamos vivos.
Por Marcia Tiburi
Ás vezes tinha medo quando o sol se punha. Tinha a impressão de que ele – o tal demônio – agia durante a noite. Não havia um motivo, mesmo porque muitas vezes os desentendimentos de semanas se resolviam em noites de sexo ardente, como naquela. Achava até graça daquilo. Após tanto tempo vivendo juntos, não tinham perdido a química sexual da qual falava a apresentadora do programa de TV matinal que ensinava às donas de casa o preparo de pratos formidáveis. No outro dia, o mundo parecia uma maravilha. Achava que as mulheres se acalmavam com aquilo mais do que os homens, mas não podia negar que ele próprio também se sentia restaurado. Por isso tinha certeza que esse demônio ia e vinha.
Talvez fosse o tal demônio um redentor. Que, embora tumultuasse sua convivência com a amada, tivesse sido enviado para se divertir. Lembrava de personagens demoníacos camaradas dos quadrinhos como o trapalhão Satanésio e o dócil Brasinha ao formular esse pensamento, enquanto olhava com firmeza para a tela do computador do escritório de administração de pessoal em que trabalhava. De longe, todos achavam que estava compenetrado nas imensas planilhas do Excel com milhares de números para serem verificados. Foi quando no discreto fone preso somente a um dos ouvidos, por debaixo dos cabelos meio crescidos, começou a tocar a melodia sinistra, tensa, de uma música do Thin Lizzy, uma das bandas mais representativas do rock pauleira dos anos 70, embora, para as massas, obscura.
Como sabia que o demônio ia e vinha, estava escaldado. Tentava não pensar nisso para curtir um raro momento de estabilidade emocional e ainda prolongá-lo ao máximo. Mas quando tudo era dito e feito, não havia escapatória: o sol se punha. Passou o dia cantarolando aquela música, a ponto de recordar como e onde a ouviu pela primeira vez, com o grau de imprecisão típico dos mais velhos que começam a perder um pouco a memória. Ela fazia parte do play list descolado da rádio rock que fez a cabeça dele na adolescência, embora Thin Lizzy não fosse muito de tocar em rádio. A lembrança, de pé, no 180, a caminho de casa, só valorizava o trabalho daquela FM que, de fato, havia revolucionado o dial brasileiro.
Achava que existia um demônio entre eles. E tinha medo quando o sol se punha. Por isso, aproveitando o horário de verão da Cidade Maravilhosa, chegou mais cedo em casa. Achou o edifício com um aroma carregado, mas não deu importância. Ao entrar em casa, era como se tivesse ficado séculos viajando e achasse a paisagem completamente diferente. Havia algo de estranho no ar que ele não sabia o que era. Foi obter a resposta ao ler um sucinto bilhete, com a duplicata de uma chave na mão, olhando ao mesmo tempo para as portas abertas de um armário vazio. Descobriu que o demônio, que ia e vinha, tinha partido de vez, levando com ele tudo o que tinha. Abriu a janela e viu o sol se pondo.
Fonte: http://www.rockemgeral.com.br/2010/02/24/demonios/
fonte:www.jornalnh.com.br/blogs/arte-sequencial/229180/perfil/quadrinhos-rock-n-roll.html